O Que Nos Liga Sem Que Percebamos

Já te perguntaste por que certos padrões se repetem na tua vida? Por que, apesar do teu desejo de mudança, parece que algo te prende sempre ao mesmo lugar, às mesmas dificuldades, às mesmas escolhas?

Muitas vezes, a resposta está nas lealdades invisíveis. Estas são vínculos silenciosos que nos ligam à nossa família, aos nossos antepassados e até a sistemas coletivos mais amplos. São compromissos inconscientes que assumimos com aqueles que vieram antes de nós, por amor, por pertença ou simplesmente porque essa foi a realidade que nos moldou.

Mas até que ponto essas lealdades nos servem? E quando é que nos aprisionam sem que nos demos conta?

A Origem das Lealdades Invisíveis

O conceito de lealdade invisível foi aprofundado pelo psiquiatra Ivan Boszormenyi-Nagy, que estudou como as relações familiares influenciam a nossa vida de formas que nem sempre conseguimos perceber. Segundo ele, há uma espécie de “balanço de justiça” nos sistemas familiares—um equilíbrio entre o que damos e recebemos, entre o que herdamos e o que transmitimos.

Muitas vezes, essa lealdade manifesta-se como um compromisso inconsciente de repetir destinos familiares, carregar dores que não nos pertencem ou até limitar-nos para não ultrapassarmos aqueles que vieram antes de nós. Se um membro da família sofreu uma grande perda ou fracassou em determinada área, podemos sentir, sem perceber, que não temos o direito de ser mais felizes ou bem-sucedidos do que ele.

Segundo Bert Hellinger, criador das Constelações Familiares, esses vínculos atuam como ordens profundas de amor e pertencimento. Mesmo que racionalmente desejemos algo diferente, a nossa alma pode permanecer presa à dor dos nossos ancestrais, como se, ao libertarmo-nos, estivéssemos a traí-los.

Como Reconhecer as Lealdades Invisíveis

As lealdades invisíveis podem manifestar-se de diversas formas:

  • Auto-sabotagem: sempre que te aproximas de um objetivo, algo te impede de o alcançar.
  • Culpa pelo sucesso: sentes-te desconfortável ou culpado quando conquistas algo que outros na tua família não conseguiram.
  • Dificuldade em criar relações saudáveis: repetes padrões disfuncionais sem perceber a origem.
  • Sensação de dívida emocional: um sentimento constante de que “deves algo” aos teus pais, avós ou familiares, mesmo sem razões concretas.

Essas lealdades podem também estar ligadas a experiências de exclusão, injustiça ou segredos familiares. Como disse Anne Ancelin Schützenberger, psicoterapeuta e autora do livro “Os meus Antepassados“, “somos menos livres do que pensamos”; os nossos comportamentos são muitas vezes guiados por histórias familiares não resolvidas.

Libertar-se das Lealdades Invisíveis

A libertação dessas lealdades não significa cortar laços ou rejeitar a família, mas sim reconhecer o que herdámos e escolher, conscientemente, o que queremos carregar daqui para a frente.

Algumas formas de iniciar esse processo:

  • Trazer à luz o que está escondido: Explorar a história familiar, perceber os padrões e as dinâmicas repetitivas.
  • Honrar sem carregar: Aceitar e respeitar a dor dos antepassados, mas sem permitir que ela defina a tua vida.
  • Práticas terapêuticas: A terapia transpessoal, as Constelações Familiares e a terapia transgeracional ajudam a trazer consciência a esses vínculos e a transformá-los.
  • Criar um novo destino: Escolher, com amor e respeito, viver a tua própria história, libertando-te do que já não serve o teu caminho.

Como disse Carl Jung, “até que tornes o inconsciente consciente, ele dirigirá a tua vida e tu chamar-lhe-ás destino”.

Afinal, não estamos presos ao passado. Podemos honrá-lo sem nos aprisionarmos a ele. Podemos agradecer o que nos foi dado e, ao mesmo tempo, abrir caminho para algo novo.

E tu? Consegues reconhecer as lealdades invisíveis que atuam na tua vida?


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